27.11.17

Levantar a cabeça

Não escondo que uma das razões que presidiu à criação deste blogue foi a ideia de que uma reflexão sobre a educação dos meus filhos contribuiria para que eu me tornasse melhor pai, repetindo menos vezes erros que são evidentes. Para já não está a funcionar. Sinto-me um treinador de futebol numa flash interview depois de um derrota: há que levantar a cabeça e pensar no próximo jogo.

22.11.17

Família numerosa

Uma das vantagens das famílias numerosas é que funcionam melhor como ensaio de sociedade, promovendo a negociação permanente entre os seus membros, forçado cedências e acordos, mostrando diversidade de temperamentos, pondo a nu justiças e injustiças, e ensinando ainda a capacidade de encontrar a solidão no meio de muita gente. Não é coisa pouca.

17.11.17

A crise de meia idade é overrated

Não sei se sou um bom pai. Mas pior do que isso: nem sei se estou a esforçar-me o suficiente. Perante esta angústia não consigo perceber como é que os homens costumam esperar até à meia-idade para ter uma crise existencial.

10.11.17

O Eusébio

A reboque de uma conversa sobre os melhores jogadores da história do Benfica, hoje tive a oportunidade de contar aos meus filhos a ocasião em que jantei com o Eusébio e lhe apertei a mão. Para os meus filhos o período da história que antecede o seu nascimento é uma amálgama difusa e mais ou menos homogénea, por isso levou algum tempo a explicar-lhes que eu nunca vi o Eusébio jogar, e foi com surpresa que, durante essa explicação, me lembrei do momento em que lhe apertei a mão, numa sala no estádio do Alverca, antes de um Alverca - Benfica. Ali estava ele, o melhor jogador português de todos os tempos (desculpa, Cristiano), o único jogador português a ganhar um Bola de Ouro enquanto jogava num clube português, simultaneamente o melhor jogador africano e o melhor jogador europeu da história do futebol, um homem que, quase sozinho, conseguiu transformar o Portugal cinzento dos anos 60 num país capaz de projectar um orgulho além fronteiras, um gentleman que chorou por nós como nenhum outro (desculpa, Cristiano); e ali estava ele, sentado numa cadeira a um canto a comer croquetes de um buffet improvisado em cima de umas mesas de plástico, sozinho, a viver a parte cinzenta da sua vida, longe do passado glorioso que nós vimos a preto e branco. Esta parte, este desencanto, poupei aos meus filhos, por razões óbvias. O que fica para a história é que eu, o pai deles, um dia apertou a mão a um deus.

7.11.17

Dois dias

Hoje tentei explicar ao meu filho o significado da expressão «a vida são dois dias», que ouvimos numa canção no carro. Disse-lhe que é uma alusão ao facto de a vida ser muito curta e passar num instante. Imediatamente lembrei-me de ter sete anos, como ele, e de estar no banco de trás no carro do meu pai a caminho da escola, como ele, e de como tudo o que eu queria era já ser adulto para poder guiar o meu próprio carro, que é o que ele estava a pensar certamente. O modo como as crianças sentem a passagem do tempo é uma das grandes injustiças da vida.

6.11.17

Conselhos para os pais

Nunca cometer o erro de achar que ser pai é como uma tarefa que se faz, no sentido em que com a experiência vem uma maior capacidade de evitar erros. Se ao terceiro filho é difícil de fugir a uma certa sobranceria que vem do facto de já termos provado a nós próprios que somos mais ou menos capazes de educar crianças, também é difícil de perceber que essa experiência não tem nenhuma tradução para aquilo que realmente importa na educação dos filhos, ou seja, o nosso comportamento. E é preciso ser o mais optimista dos optimistas vivos para achar que o comportamento humano se apura com a idade e a experiência. Não, não se apura, não se refina, não nada. Somos o mesmo animal com os mesmos impulsos e as mesmas imperfeições; com a agravante, arrisco dizer, de termos um bocadinho menos de futuro pela frente.