10.11.17

O Eusébio

A reboque de uma conversa sobre os melhores jogadores da história do Benfica, hoje tive a oportunidade de contar aos meus filhos a ocasião em que jantei com o Eusébio e lhe apertei a mão. Para os meus filhos o período da história que antecede o seu nascimento é uma amálgama difusa e mais ou menos homogénea, por isso levou algum tempo a explicar-lhes que eu nunca vi o Eusébio jogar, e foi com surpresa que, durante essa explicação, me lembrei do momento em que lhe apertei a mão, numa sala no estádio do Alverca, antes de um Alverca - Benfica. Ali estava ele, o melhor jogador português de todos os tempos (desculpa, Cristiano), o único jogador português a ganhar um Bola de Ouro enquanto jogava num clube português, simultaneamente o melhor jogador africano e o melhor jogador europeu da história do futebol, um homem que, quase sozinho, conseguiu transformar o Portugal cinzento dos anos 60 num país capaz de projectar um orgulho além fronteiras, um gentleman que chorou por nós como nenhum outro (desculpa, Cristiano); e ali estava ele, sentado numa cadeira a um canto a comer croquetes de um buffet improvisado em cima de umas mesas de plástico, sozinho, a viver a parte cinzenta da sua vida, longe do passado glorioso que nós vimos a preto e branco. Esta parte, este desencanto, poupei aos meus filhos, por razões óbvias. O que fica para a história é que eu, o pai deles, um dia apertou a mão a um deus.

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