4.10.17

Be the change

Um episódio do sempre recomendável Hidden Brain, de Shankar Vedantam, sobre as dificuldades que um casal americano encontrou quando decidiu educar a sua filha sem a muleta dos estereótipos de género. Eu já perdi esse comboio há muito tempo, embora seja uma ideia que me persiga. Mas reconheço a minha fraqueza: teria sido muito mais fácil (para mim) fazê-lo com uma rapariga do que com rapazes. Uma «maria-rapaz» não me causa qualquer estranheza, até porque «maria-rapaz» nunca foi um termo pejorativo; já o contrário é mais difícil de assimilar e de definir sem recorrer a preconceitos insultuosos, sempre com alusões à orientação sexual do rapaz, o que é especialmente grotesco. Eu gostava de ter tido a coragem que tiveram estes pais, de contribuir para demolir as expectativas que a sociedade deposita nos rapazes e nas raparigas, de maneira a que não fosse um problema o meu filho levar um casaco para escola, como hoje levou, com uma cor que não é aceite pelos seus colegas e que o torna alvo de piadas maldosas. E olhando para a experiência que tenho tido em educar dois rapazes é cada vez mais evidente para mim que a importância da sua natureza biológica para a definição da sua «identidade de género» é muito menor do que aquilo que eu estou preparado para admitir. A enorme inteligência das crianças demonstrada pelo trabalho da Alison Gopnik tem de servir para nos esclarecer sobre a sua capacidade de adaptação ao mundo que as rodeia: uma criança que é tratada, desde a nascença, como rapaz ou rapariga vai rapidamente começar a comportar-se como rapaz ou rapariga. E, mais uma vez, somos nós, os pais, que estragamos tudo ao projectar nos nossos filhos as nossas inseguranças sobre o que é ser «homem» ou ser «mulher», usando-os de uma maneira muito egoísta como hipótese de redenção dos nossos próprios falhanços.

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