8.1.18

O consumismo do Natal

A propósito do consenso instalado em torno da crítica ao «consumismo» que, segundo esta corrente de opinião, ameaça «estragar» o Natal, e agora que estou de regresso a casa enquanto espero o transporte transfronteiriço de vários volumes cheios de presentes de Natal dos meus filhos, parece-me útil recordar esta crónica do Paulo Tunhas que diz o que eu gostaria de conseguir dizer, se não estivesse muito cansado:

«(...) Quem gosta a sério do Natal são as crianças, e por causa das prendas – não por causa da eventual tia velha que por lá aparece. Há muitos dias do ano mais propícios a lições de frugalidade. Eu, quando era miúdo, gostava imenso do dito “consumismo”, e se alguma reprovação me passava pela cabeça era ele não atingir proporções mais elevadas.

(...)

Mas ando muito convencido, e não é de hoje, que a censura do dito “consumismo” tem mais a ver com aquele obscuro impulso humano a dizer “o que deve ser dito” em certas circunstâncias. 

(...)

É bom, no Natal, ver as pessoas na rua, ocupadas com as últimas compras. Sobretudo no último dia. Dantes, nas reportagens televisivas do dia 24, os jornalistas obedeciam quase sistematicamente a um velho hábito: censurar as pessoas – “os portugueses” – que deixavam as compras para a última hora. Nunca percebi o fundo moral da acusação. Desleixo? Indiferença? Falta de espírito natalício? Enfim, provavelmente a mesma vontade de cumprir com o que se julga ter de dizer, acompanhada do vulgar gozo de reprovar. (...)»

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