22.1.18

Como falar de religião

Sendo eu um ateu não praticante, ou melhor, praticante mas não evangelizador, as conversas sobre religião com os meus filhos tendem a ser um exercício de evasão retórica. Explico: eu fui educado no catolicismo e tenho com esse mesmo catolicismo uma relação que é mais de ternura do que de rejeição ou confronto. Tenho uma postura que é o oposto àquela repetida em inquéritos de verão por figuras do jet-set mediático que, quando perguntadas sobre as suas convicções religiosas, dizem «acreditar» numa força ou num ser ou numa energia «superior», embora não adiram a nenhuma religião «convencional» ou organizada: eu não acredito em nenhuma espécie de existência sobrenatural mas adiro ao cristianismo como filosofia (que é, já mo disseram, uma postura cobarde, já que o cristianismo supõe e exige uma aceitação da premissa religiosa que lhe está na génese, uma premissa à qual me é impossível aderir.) A juntar a isto está também o facto de a minha família ser massivamente católica, família com a qual eu me dou muito bem. Por isso, quando confrontado com a escolha entre «ética» ou «religião» como currículo de escola para os meus filhos, não hesitei. Até porque me faz alguma impressão que um europeu não esteja familiarizado com a história do cristianismo, e acho mais útil e interessante que se tenha contacto com essa história a partir de dentro e não apenas como observador neutro e desinteressado. Como é óbvio, os meus filhos, que não fazem nada com ligeireza, têm chegado a casa frequentemente com perguntas e interpelações de carácter religioso, o que me tem causado um dilema que não tem sido difícil de resolver. O dilema é o seguinte: como manter uma conversa com eles sobre religião - e sobre o cristianismo - sem mentir, seja a eles seja a mim próprio, e sem negar ou afrontar o que a professora de religião lhes conta? Como disse, não tem sido difícil de gerir este dilema: o que costumo fazer é dizer que, por exemplo a propósito da existência de Deus, que há pessoas que acreditam e que há pessoas que não acreditam e que, mais importante do que isso, nunca nos será possível saber. Até agora não me parece que eles estejam mergulhados em nenhuma espécie de angústia existencial e acho que estão a conseguir manter uma curiosidade que não está a ser cerceada de nenhuma maneira explícita. E também me agrada o facto de eles se habituarem desde cedo à ideia de que há pessoas que acreditam em coisas diferentes e que isso não deve alterar a maneira como nos relacionamos com elas. Não há dúvida de que há outras áreas da sua educação que me causam mais angústias do que esta.

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