16.10.17

Tal filho, tal pai

Uma festa de anos é sempre útil para nos surpreendermos, outra vez, com a enorme semelhança entre filhos e pais. Não é nada difícil dispararmos o gatilho da genética quando fazemos estas observações, até porque as parecenças físicas são as mais evidentes. Mas aquilo que mais me fascina é o que não é devido à genética - ou que poderá não ser devido só à genética: o comportamento, os tiques de linguagem corporal, a facilidade ou dificuldade de interacção social, a segurança ou insegurança com que o mundo é encarado, et cetera. Levar um filho a uma festa de anos é quase como sair à rua nu, de mão dada com uma versão de nós próprios que não é ainda filtrada pela self-consciousness da idade adulta. Claro que os irmãos são muito diferentes entre si e que os pais também podem ser muito diferentes entre si, e que portanto mandaria a mais elementar prudência encarar com desconfiança esta ideia de causalidade, mas eu não consigo deixar de, primeiro, envergonhar-me e orgulhar-me de coisas que os meus filhos fazem em festas e, segundo, aproveitar o comportamento dos filhos dos outros para confirmar a ideia que tenho dos pais deles. E claro que é assim que se constroem famílias, afinidades e comunidades - e é assim que facilmente rancores resistem ao passar das gerações e que ódios antigos persistem no tempo. A facilidade com que cometemos a imprudência de gostar quando os nossos filhos se parecem connosco (um tema muito caro a este blogue) é indissociável da rapidez com que usamos os filhos dos outros para os julgar. Todos nós devíamos ser melhores do que isto.

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