9.10.17

Da empatia

Eu já fui criança e por isso não devia ser tão difícil o exercício da empatia em relação aos meus filhos, mas é. Às vezes é só isso que eles precisam, sentir que os pais estão a perceber aquilo por que eles estão a passar. E nós insistimos em não perceber, cometendo o erro de inverter a lógica, acusando-os (mentalmente) de não «fazerem um esforço» para perceber que têm de se vestir, calçar os sapatos, lavar os dentes, sentar-se à mesa, arrumar o quarto, et cetera. Não que não seja esse o nosso papel - a educação também passa pela aprendizagem destas pequenas rotinas - mas por vezes apercebo-me de que o esforço em falta é o meu. Isto é especialmente grave porque os meus filhos mais velhos têm ambos uma idade que eu me lembro de ter, e estão a passar por coisas que eu me lembro de passar. É comum lembrarmos que ser criança é uma coisa maravilhosa - mas também é comum esquecermo-nos de que ser criança é uma coisa aterradora, semelhante a habitar um universo paralelo povoado por criaturas fantásticas onde tudo pode acontecer. Talvez seja por isso que nós sejamos tão reticentes em mergulhar nas nossas memórias de infância e ajudar os nossos filhos a temer menos aquilo que não conhecem. É uma forma de egoísmo, mas espero que isso não me revele como um pai narcisista.

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