6.7.18

Gonads

O Radiolab tem vindo a publicar uma série de episódios dedicados aos órgãos reprodutores humanos, produzidos pela Molly Webster, que vale muito a pena ouvir. Aqui ficam os três primeiros.
   
 

21.5.18

Dez mandamentos que interessam

«(...) Em paralelo com o aumento da literacia científica e o primado de uma medicina e políticas públicas baseadas na evidência, nas sociedades desenvolvidas vão ganhando popularidade práticas pseudo-científicas, na forma de cultos e rituais variados, de que são exemplo o endeusamento da natureza e dos produtos naturais ou o fascínio por terapias não convencionais, como a homeopatia, e por energias estrambólicas que parecem animar uma espiritualidade pimba. Outros mais competentes e perspicazes saberão explicar a pujança actual destas manias e cultos, se são resultado da decadência das grandes narrativas políticas e do fraco apelo das religiões tradicionais, de uma cultura narcisista e dada a caprichos, em que se procura forjar uma identidade, do labor de aldrabões que conseguiram criar uma comunidade de consumidores manipuláveis, de redes sociais que promovem novas cavernas de Platão, em que as comunidades se isolam para reforçar as convicções partilhadas, de uma oferta informativa e de plataformas de discussão vastíssima em que nos perdemos com facilidade, propícia à propagação de teorias da conspiração irresistíveis, que apelam à nossa vaidade (fazem-nos parecer mais espertos do que somos) e ao nosso ressentimento e indignação, assim minando a autoridade das instituições e dos especialistas. (...)

«Dez mandamentos contra a moda anti-vacinas», Vasco M. Barreto

31.1.18

Aviso

Este blogue não é um diário, é um semanário.

22.1.18

Como falar de religião

Sendo eu um ateu não praticante, ou melhor, praticante mas não evangelizador, as conversas sobre religião com os meus filhos tendem a ser um exercício de evasão retórica. Explico: eu fui educado no catolicismo e tenho com esse mesmo catolicismo uma relação que é mais de ternura do que de rejeição ou confronto. Tenho uma postura que é o oposto àquela repetida em inquéritos de verão por figuras do jet-set mediático que, quando perguntadas sobre as suas convicções religiosas, dizem «acreditar» numa força ou num ser ou numa energia «superior», embora não adiram a nenhuma religião «convencional» ou organizada: eu não acredito em nenhuma espécie de existência sobrenatural mas adiro ao cristianismo como filosofia (que é, já mo disseram, uma postura cobarde, já que o cristianismo supõe e exige uma aceitação da premissa religiosa que lhe está na génese, uma premissa à qual me é impossível aderir.) A juntar a isto está também o facto de a minha família ser massivamente católica, família com a qual eu me dou muito bem. Por isso, quando confrontado com a escolha entre «ética» ou «religião» como currículo de escola para os meus filhos, não hesitei. Até porque me faz alguma impressão que um europeu não esteja familiarizado com a história do cristianismo, e acho mais útil e interessante que se tenha contacto com essa história a partir de dentro e não apenas como observador neutro e desinteressado. Como é óbvio, os meus filhos, que não fazem nada com ligeireza, têm chegado a casa frequentemente com perguntas e interpelações de carácter religioso, o que me tem causado um dilema que não tem sido difícil de resolver. O dilema é o seguinte: como manter uma conversa com eles sobre religião - e sobre o cristianismo - sem mentir, seja a eles seja a mim próprio, e sem negar ou afrontar o que a professora de religião lhes conta? Como disse, não tem sido difícil de gerir este dilema: o que costumo fazer é dizer que, por exemplo a propósito da existência de Deus, que há pessoas que acreditam e que há pessoas que não acreditam e que, mais importante do que isso, nunca nos será possível saber. Até agora não me parece que eles estejam mergulhados em nenhuma espécie de angústia existencial e acho que estão a conseguir manter uma curiosidade que não está a ser cerceada de nenhuma maneira explícita. E também me agrada o facto de eles se habituarem desde cedo à ideia de que há pessoas que acreditam em coisas diferentes e que isso não deve alterar a maneira como nos relacionamos com elas. Não há dúvida de que há outras áreas da sua educação que me causam mais angústias do que esta.

8.1.18

Maneira de ser

Cheguei à conclusão de que o facto de já ter dois filhos com personalidade desenvolvida faz-me olhar com mais fascínio para o terceiro, e não com menos, como seria, talvez, de esperar. Por esta altura já sei uma coisa que não sabia há uns anos: à excepção de tiques comportamentais mais ou menos superficiais, o temperamento das crianças só por coincidência se aproxima do dos pais. Claro, eu espero que os adultos em que eles se estão a tornar venham a partilhar certos valores que julgo estar a passar-lhes na sua educação, mas já perdi a ilusão infantil que é achar que os meus filhos vão, de certa maneira, ser uma extensão da minha maneira de ser. Essa ilusão caiu com estrondo ao segundo filho, tão diferente do primeiro. Por isso olho para o terceiro agora, nesta fase em que ele é ainda apenas um bebé que precisa de comida e calor, com um profundo fascínio: que pessoa estará ali?

O consumismo do Natal

A propósito do consenso instalado em torno da crítica ao «consumismo» que, segundo esta corrente de opinião, ameaça «estragar» o Natal, e agora que estou de regresso a casa enquanto espero o transporte transfronteiriço de vários volumes cheios de presentes de Natal dos meus filhos, parece-me útil recordar esta crónica do Paulo Tunhas que diz o que eu gostaria de conseguir dizer, se não estivesse muito cansado:

«(...) Quem gosta a sério do Natal são as crianças, e por causa das prendas – não por causa da eventual tia velha que por lá aparece. Há muitos dias do ano mais propícios a lições de frugalidade. Eu, quando era miúdo, gostava imenso do dito “consumismo”, e se alguma reprovação me passava pela cabeça era ele não atingir proporções mais elevadas.

(...)

Mas ando muito convencido, e não é de hoje, que a censura do dito “consumismo” tem mais a ver com aquele obscuro impulso humano a dizer “o que deve ser dito” em certas circunstâncias. 

(...)

É bom, no Natal, ver as pessoas na rua, ocupadas com as últimas compras. Sobretudo no último dia. Dantes, nas reportagens televisivas do dia 24, os jornalistas obedeciam quase sistematicamente a um velho hábito: censurar as pessoas – “os portugueses” – que deixavam as compras para a última hora. Nunca percebi o fundo moral da acusação. Desleixo? Indiferença? Falta de espírito natalício? Enfim, provavelmente a mesma vontade de cumprir com o que se julga ter de dizer, acompanhada do vulgar gozo de reprovar. (...)»

22.12.17

Os meus filhos

Assistir à transformação dos nossos filhos de criaturas totalmente dependentes de nós a pessoas com um grau progressivo de autonomia é das experiências mais profundamente satisfatórias que existem. Há não muito tempo olhava para isto com um grau não negligenciável de ansiedade mas hoje sinto apenas puro prazer. A verdade é que gosto muito dos meus filhos, acho-os pessoas muito divertidas, e sinto-me muito à vontade sabendo que a minha responsabilidade nisso é, até certo ponto, bastante limitada. Apesar de terem temperamentos diferentes, partilham traços de personalidade que me tranquilizam em relação ao seu futuro: são imensamente curiosos e desconfiados dos adultos, não nutrem pela autoridade um respeito particular - o que às vezes pode passar por má educação -, têm muito mais confiança neles próprios do que eu me lembro de ter com a idade deles, são carinhosos e gentis mais vezes do que não, têm muito sentido de humor e sabem que têm sentido de humor, mantêm mínimos aceitáveis de boa educação e cordialidade quando estão com adultos que conhecem mal, dizem muitos palavrões mas conhecem as ocasiões em que não devem dizê-los, são tremendamente informados sobre o mundo (mais uma vez, muito mais do que eu me lembro de ser com a idade deles), e são muito, muito amigos um do outro. Como pai não poderia pedir mais.

13.12.17

12.12.17

Todas as manhãs

Que os meus filhos enfrentem, todas as manhãs, as idas para a escola como se fossem uma coisa perfeitamente natural e não o evento aterrador que eu me lembro de ser é algo de que eu me orgulho muito.

27.11.17

Levantar a cabeça

Não escondo que uma das razões que presidiu à criação deste blogue foi a ideia de que uma reflexão sobre a educação dos meus filhos contribuiria para que eu me tornasse melhor pai, repetindo menos vezes erros que são evidentes. Para já não está a funcionar. Sinto-me um treinador de futebol numa flash interview depois de um derrota: há que levantar a cabeça e pensar no próximo jogo.